18/10/2012

EXTERIORIDADE vs INTERIORIDADE




A GALINHA INSATISFEITA

- E quanto aos pássaros?
- Eles também não têm o direito de voar? - retrucou a galinha.
- Sim, mas vocês têm os seus privilégios que os outros pássaroa não têm. - Disse Castro.
- Não sei não, você sempre vem com esse papo furado. Foi assim com os ursos, com as cobras e com os camelos. - Retrucou novamente a galinha, com uma cara feia.
- E você sabe que todos eles aceitaram minhas explicações.
- Mas nós galinhas não aceitaremos.
- E o que irão fazer?
- Nós? Bem... Nós não iremos mais por ovos, e vocês homens não irão mais comer 'ovos fritos'!
- Não tem problema dona Geruza. Ainda sim temos os ovos das codornas.
- Então nós não iremos mais fazer companhia a vocês nos sítios.
- Tudo bem, aceito seu argumento, mas quem irá protegê-las os lobos?
- Nós iremos entrar em acordo com os cães dos vizinhos para que nos protejam.
- Mas vocês não acham que pedirão algo em troca?
- Sim, mas.. Bem... Nós damos alguns ovos para eles comerem.
- Cães não são chegados em ovos, mas tudo bem. Apenas quero que entremos num acordo.
- Se você nos tivesse dado o dom de voar, talvez nada disso tivesse acontecendo.

Projetou-se um longo silêncio na plateia do galinheiro. Enquanto Castro sentado numa cadeira beira a porta olhava Geruza e suas amigas tristes.

- Sinto muito minha amiga.
- Sente muito? Todos nós sentimos muito senhor Castro. Agora vamos logo com isso. Ou voamos, ou vamos todas embora...
- Mas deixe eu tentar me defender.
- Ok, mas ande logo com isso!!!
- Os ursos entenderam a diferença dos polares serem brancos e os selvagens serem escuros. As cobras entenderam porque rastejam e os camelos entenderam porque vivem no deserto. Quero que vocês entendam o por quê não voam.
- E porque?

Nesse momento um sabiá pousou na janela do galinheiro e gritou:
- Senhor Castro! Senhor Castro!
- Sim meu querido amigo.
- Queremos marcar uma reunião com o Senhor, e que seja pra hoje ainda.
- Mas qual seria um motivo?
- Esperem, é a nossa vez seus passarinhos malditos! - disse Geruza.
- Não podemos, o caso é grave!
- Pois então diga seu Getúlio, o que houve. - Insistiu Castro vendo a aflição nos olhos do seu amigo.
- Nós passarinhos queremos fazer uma reclamação. Não aguentamos mais voar e voar o dia inteiro e ter que ficar cantando para os outros animais, alimentando seus ouvidos. Quando pousamos no chão vocês homens não nos dão segurança, e corremos o risco de sermos atacados pelas cobras. Não conseguimos andar por conta das nossas finas patas, temos que ficar pulando. Ora Seu Castro, quem pula é o Saci!!!
- E o que vocês querem afinal? - perguntou Castro.
- Queremos ser igual as galinhas. Elas não gastam energia voando e nem cantando. Têm o conforto do galinheiro, não precisam construir seus ninhos e nem se preocupar com o frio. Além de terem a segurança dos homens, com relação aos lobos. E a única coisa que fazem é chocar os ovos...

Castro observou o semblante de Geruza. Que parecia confusa. E então lhe disse calmamente:
- Minha amiga. A perfeição está nos olhos de quem vê. Não queira ser um pássaro ou uma borboleta, sem antes ao menos ter sido uma galinha, que é o que você é. E antes de ser uma galinha, seja a Geruza, minha amiga que eu amo do fundo do meu coração. Isso lhe serve também Getúlio?

- Sim mestre! - respondeu com lágrimas nos olhos.
- Desculpe ter amolado Senhor. Vamos reavaliar nossos pensamentos e reflexões. - disse Geruza.
Sempre que precisar estarei aqui para lhes servir minhas amigas. E você também meu amigo. - disse o mestre.
- Quantos ovos para o almoço Senhor? - perguntou outra galinha
- Dois.
- E qual a canção meu mestre? - perguntou dessa vez o sabiá.
- Geni e o Zepelim de Chico
- Ok.


BRUNO LOPES – OUTUBRO 2012

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